A Arquidiocese de Florianópolis lançou o Projeto Rios na 24 Romaria da Terra e das Águas, em Tubarão/SC.
Realidade dos rios e da água em Santa Catarina
No Estado existem mais de 150 rios, sem contar pequenos córregos, que garantem o abastecimento de regiões inteiras. Infelizmente cerca de 65% dos cursos d’agua apresentam contaminação grave, fruto do terceiro pior sistema de saneamento do País. Santa Catarina trata menos de 18% do esgoto, o que leva os rios do Estado a uma situação crítica de poluição. Além disso, há também a contaminação pela mineração e pelo uso abusivo de agrotóxicos, entre outras.
Junto disso, uma realidade difícil se estabelece em diversos municípios: as matas ciliares, que poderiam reduzir a poluição e melhorar a qualidade da água, foram atingidas; banhados e outros mananciais foram sufocados pela ocupação urbana desordenada, e por uma gestão agrícola que não prioriza a preservação da água e da terra, essenciais à vida e à agricultura.
A possibilidade de contaminação das águas subterrâneas
Segundo dados de pesquisadores do Projeto Aquífero Guarani/Serra Geral, da UFSC, há grave possibilidade de comprometimento dos aquíferos que abastecem o Estado. É uma relação interligada: rios alimentam aquíferos, que alimentam os rios.
E quanto aos aquíferos também há uma ameaça preponderante: o Estado é o que mais perfura poços, justamente sobre um dos maiores aquíferos do mundo, o Aquífero Guarani. Cerca de 50% de Santa Catarina está sobre este manancial hídrico. As perfurações abrem espécies de “feridas” que podem exaurir a água pelo uso indiscriminado, e, depois disso, facilitar a contaminação através da abertura do poço.
Estiagens mesmo em regiões com chuva abundante
A situação dos rios no Estado é grave mesmo num período em que, historicamente, não acontecem estiagens. A Epagri emitiu, no final de julho, um “alerta hidrológico” para todas as regiões. O motivo foi a situação de emergência de rios localizados em 11 cidades catarinenses. No caso de Concórdia, o Rio dos Queimados estava com nível inferior a três centímetros.
Isso motivou um estudo da Defesa Civil sobre as razões da estiagem, em especial na Região Oeste. O estudo apontou que o principal problema não é a falta de água, mas a ausência de gestão dos recursos hídricos e de cuidado com as condições que os mantém: preservação de áreas verdes, proteção de fontes e mananciais e fiscalização sobre a poluição.
E nesta lista está um dos principais problemas, que é a falta de preservação das matas ciliares, que garantem a recuperação da qualidade e a manutenção da quantidade de água. O impacto destas estiagens é maior quando o rio não conta com mata ciliar. A quantidade da água reduz, e pela poluição, sua qualidade também.
E não são somente custos sociais e ambientais. Esta conduta afeta a economia. Estima-se em 35% o aumento no custo de captação e tratamento em razão da falta de preservação dos rios.
Experiência Comunitária de Gestão de Recursos Hídricos
Na Europa há anos é desenvolvido o Projeto Rios (Espanha e Portugal), que busca a participação social na conservação dos rios e mananciais, acompanhando os objetivos apresentados na Década da Educação das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável.
O Projeto Rios foi lançado inicialmente na Catalunha pela “Associació Habitats para Projecte RIUS Catalunya”, em 1997. Desde então é um sucesso na mobilização das comunidades. Hoje com 20 anos de experiência, desenvolve suas atividades de voluntariado dividido em 1000 grupos, de cinco Comunidades Autónomas: Associació Habitats, na Catalunha; ADEGA, na Galiza; Xúquer Viu, na comunidade de Valência; CIMA, na Cantábria e Territórios Vivos, em Madrid.
A sistemática é simples: para dar resposta visível à problemática da água, as comunidades organizam-se através de um protocolo de ação, “adotando” parcelas de rios que são significativos para suas realidades. A partir disso, de forma coletiva e dividindo tarefas, fazem o diagnóstico da situação do rio, possíveis medidas necessárias, como agir na fiscalização e nas propostas de ações que podem melhorar a condição do local.
A proposta é inovadora no sentido de criar um “voluntariado ambiental”. Estas comunidades, de forma organizada, implementam projetos no âmbito da responsabilidade socioambiental, da gestão dos recursos naturais, dos resíduos e da biodiversidade relacionadas à gestão da água.
Os trechos adotados variam de tamanho, conforme regras previamente estabelecidas. No entanto, é possível, numa pequena extensão de 500 metros de rio, promover a educação, a consciencialização e o envolvimento ativo da comunidade para a importância e valorização do ambiente.
Hoje, em Portugal, participam do projeto diversas entidades e instituições, desde câmaras municipais até escolas, associações, organizações não-governamentais, institutos e centros de pesquisa. Em muitos locais, empresas também participam do projeto, dando base inclusive a investimentos nas áreas de pesquisa e extensão.
O resultado do projeto em Portugal não deixa dúvidas do seu potencial: 310 grupos inscritos em 100 municípios, com 155 km de rios adotados; cerca de 8,5 mil participantes e mais de 45 mil pessoas envolvidas em atividades; 600 professores; 340 monitores do Projeto e 20 cursos de formação.
As atividades podem ser saídas de campo, formação de novos monitores, ações de limpeza e conservação diretamente nos rios, conscientização de crianças e jovens, enfim, várias linhas de trabalho e propostas.
“ Isso mostra que o problema da água é, em parte, uma questão educativa e cultural, porque não há consciência da gravidade deste comportamento num contexto de grande desigualdade”.
(Papa Francisco – LS, 30)
Fonte: ASA Floripa